quarta-feira, 30 de agosto de 2000

Santo Alexandre de Svir


Santo Alexandre de Svir nasceu em 15 julho de 1448, no dia da festa do profeta Amós, recebendo este nome quando do seu Batismo.

Este abençoado Amigo de Deus marcou o monaquismo introduzido nas florestas profundas do Norte russo, entre os monges que vivem no mais rigoroso ascetismo, e o Espírito Santo Lhe concedeu os mais extraordinários dons.

Seus pais, Estevão e Vasa eram camponeses. Eles tiveram filhos e filhas, mas esses, ao se tornarem adultos,viviam longe dos pais. Queriam ter outro filho, e oravam com fervor a Deus.

Um dia, ouviram uma voz do alto que dizia: "Alegrai-vos, bom homem e mulher, vocês vão ter um filho, e através do seu nascimento Deus agraciará à Sua Igreja."
Amós sempre foi uma criança especial. Obediente e dócil,evitava os jogos, piadas e o falar sujo, usava roupas tão pobres e chegava a ficar enfraquecido pelo jejum, de modo que até mesmo causava ansiedades em sua mãe.
Quando ficou mais velho,certa vez encontrou alguns monges de Valamo que estavam em sua cidade para comprar mantimentos para o mosteiro.
Já neste tempo Valamo era conhecido como um mosteiro de piedade profunda e rigorosa vida ascética. Depois de falar com os monges, o jovem ficou fascinado ao conhecer a vida em um skete(um monastério para dois ou três monges)e sobre os aspectos da vida solitária dos eremitas.
Sabendo que seus pais tinham arranjado um casamento para ele,o jovem foi secretamente ao Monasterio de Valamo quando tinha dezenove anos. Sob o disfarce de um viajante,um anjo de Deus apareceu-lhe, mostrando-lhe o caminho para a ilha.
Amós viveu por sete anos no mosteiro como noviço, levando uma vida austera. Passava os dias no trabalho, e as noites em vigilância e oração, as vezes na floresta, em cima de um tronco sem cobertura,coberto por mosquitos, e em oração permanecia até ouvir o canto matinal dos pássaros.
No ano de 1474, Amós recebeu a tonsura monástica com o nome de Alexandre. Depois de vários anos, seus pais finalmente conseguiram chegar até o Monastério, onde seu filho estava. Seguindo o exemplo de seu filho, os pais também ingressaram no mosteiro e foram tonsurados com os nomes de Sérgio e Barbara. Após a morte de ambos, São Alexandre, com a bênção do igumeno do mosteiro, ingressou para uma ilha deserta, onde lá construiu uma célula na fenda de um penhasco, o local onde foram realizadas muitas façanhas espirituais.
A fama do seu asceticismo se propagou. Em 1485 São Alexandre, ao receber uma ordem dos Céus, escolheu um local na floresta nas margens de um belo lago, que mais tarde foi chamado Santo. Nesta localidade,o monge construiu uma cabana e viveu em solidão por sete anos, comendo apenas o que encontrava na floresta (mais tarde neste lugar,o Lago Santo,São Alexander fundou o mosteiro da Santíssima e Vivificante Trindade.
Durante este tempo, o santo experimentou os sofrimentos da fome mais feroz,geadas,doenças e as tentações demoníacas.
Mas o Senhor continuamente lhe dava sustento espiritual e a resistência física dos justos. 
Certa vez, submetido ao sofrimento de uma enfermidade terrível, pela qual se tornou incapaz de se levantar do chão ou mesmo de levantar a cabeça. 
Ele mesmo prostrado como estava, permaneceu cantando os Salmos. Então, um homem glorificado lhe apareceu. Colocando a mão sobre o local em que sentia mais dor, fez o Sinal da Cruz sobre o santo, o curando.
Em 1493, durante uma caçada, o fazendeiro André Zavalishin avistou a cabana do santo. André foi até lá, contando ao monge sobre uma estranha luminosidade que vinha daquele lugar. Ele pediu ao monge para lhe orientar sobre a sua vida. A partir deste dia, André começou a visitar Santo Alexandre muitas vezes , até que um dia, sendo orientado pelo monge, foi para Valaam, onde foi tonsurado com o nome de Adriano. Mais tarde, ele mesmo fundou o mosteiro Ondrusov, e levou uma vida santa (26 de agosto e 17 de maio). 
André não foi capaz de manter silêncio sobre o asceta, apesar de ter prometido o silencio ao santo. Notícias sobre o justo começaram a se propagar em grandes proporções, e os monges começaram a se reunir em torno dele. Devido a isso, Santo Alexandre se afastou dos seus irmãos e construiu para si uma morada distante do mosteiro. Lá encontrou uma multidão de tentações. Os demônios assumiam formas bestiais, como serpentes terríveis, que o instavam a fugir. No entanto, a oração do santo queimou e dispersou os demônios com uma chama ardente. 
Em 1508, vinte e três anos depois do santo ter chegado a este lugar isolado, a Santíssima e Vivificante Trindade apareceu ao santo.



Em certa noite, quando orava em sua cabana, repentinamente uma luz intensa brilhou, e o monge viu três homens,vestidos em trajes de um branco radiante, e Estes se aproximaram dele. A Glória celeste, brilhava de forma radiante sobre Eles. Cada um deles tinha um cajado na mão.
O monge desmaiou aterrorizado, mas ao recobrar os seus sentidos, se prostrou no chão. 
Tomando-o pela mão, um dos homens lhe disse: "Tende confiança, abençoado,e não tenha medo."


 Ao santo foi ordenado construir uma igreja e um mosteiro. Ele caiu de joelhos, afirmando a sua própria indignidade, mas que o Senhor o ressuscitou e lhe ordenou cumprir os mandamentos. 
Santo Alexandre perguntou para quem a igreja deveria ser dedicada. O Senhor então disse: "Amado, como você vê aqueles que falam com você em três pessoas, assim também deve construir a Igreja, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, a Trindade Una em Essência. Deixo-vos a paz e a Minha paz vos dou." 
E logo Santo Alexandre contemplou o Senhor dotado de asas abertas, indo para o céu, e logo desaparecendo.
Na história da Igreja Ortodoxa este evento é reconhecido como único. Imediatamente após esta visão, o monge começou a pensar em como construir a igreja. Certa vez, enquanto orava a Deus, ouviu uma voz vinda do alto. Olhando para os céus, viu um anjo de Deus dotado do manto e do véu dos monges, assim como na visão de São Pacômio.
O anjo, em pé no ar com as asas abertas e as mãos erguidas, proclamou: "Só Um é santo, só o Senhor Jesus Cristo, para glória de Deus Pai. Amém". Então o Anjo virou-se para Santo Alexandre dizendo: "Construa sobre este local a Igreja, em nome do Senhor que lhe apareceu em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, a Trindade indivisível". Depois de fazer o Sinal da Cruz sobre o local três vezes, o anjo tornou-se invisível. 
Nesse mesmo ano, uma igreja em Honra a Vivificante Trindade Santa, toda de madeira, foi construída (em 1526 também uma igreja de pedra). Ao tempo que a construção da igreja se consolidava, os irmãos começaram a incitar Santo Alexandre a aceitar o sacerdócio. 
Por muito tempo recusou, considerando-se indigno. Então os irmãos começaram a implorar a São Serapião, Arcebispo de Novgorod (comemorado no dia16 de março), para convencê-lo a aceitar o cargo. E assim, naquele mesmo ano, Santo Alexandre viajou para Novgorod e recebeu a ordenação do próprio santo arcebispo. Logo depois, os irmãos pediram ao santo para que ele fosse o seu igumeno.
Como igumeno, o monge tornou-se ainda mais humilde do que antes. Suas roupas eram todas feitas de farrapos, e passou a dormir diretamente no chão. Ele mesmo preparava o seu alimento, uma massa sovada e pão. Certo dia, não havendo lenha o suficiente, o cozinheiro pediu para o igumeno enviar monges ocioso para cortar lenha. "Eu estou ocioso", disse o santo, e ele começou a cortar lenha. Em outra ocasião, ele carregava água, enquanto todos os 
demais estavam dormindo, e o santo ainda fazia a moagem do trigo manualmente, para obtenção da farinha para o pão. Ele fazia rondas noturnas das células, e se ele ouvia conversas vãs, batia levemente na porta e partia, mas de manhã avisava o irmão, impunha uma penitência a ele. 
Próximo do fim de sua vida, Santo Alexander decidiu construir uma igreja de pedra em honra da Proteção da Santíssima Mãe de Deus. 
Uma noite, depois de cantar um Akathiste à Santíssima Mãe de Deus, foi descansar em sua cela. Até que ouviu o seguinte : "Criança, sede sóbrio e alerta, porque a esta hora, teremos uma maravilhosa e surpreendente visita. " 
Então veio uma voz de trovão: "Eis que o Senhor e Sua Mãe estão chegando."
O monge correu para fora da cela, e uma grande luz iluminou-lo, brilhando sobre todo o mosteiro, com uma luminosidade mais brilhante que os raios do sol. 
O santo viu a Toda Pura Mãe de Deus acima das fundações da futura Igreja da Proteção, sentada onde se daria o Altar, como uma imperatriz no trono. Ela segurava o Menino Jesus nos braços, e uma multidão de anjos se movimentavam diante Dela, brilhando com um brilho indescritível. 
Ele se prostrou, incapaz de suportar a grande luz. A Mãe de Deus disse: "Levanta-te, escolhido de Meu Filho e Deus. Eu vim aqui para visitá-lo, meu querido, e olhar para a base da minha igreja. Você suplicou pelos seus discípulos e por este mosteiro. A partir de hoje haverá abundância, não só durante a sua vida, mas também após sua morte. Tudo o que o mosteiro precisar será concedido em abundância. Veja atentamente como muitos monges estão reunidos em seu rebanho. Você deve orientá-los sobre a caminho da salvação em nome da Santíssima Trindade." 


O santo levantou-se e viu uma multidão de monges. Mais uma vez a Mãe de Deus disse: "Meu querido, se alguém traz ainda um tijolo para a construção da minha igreja, em nome de Jesus Cristo, meu filho e Deus, o seu tesouro não perecerá." E Ela então tornou-se invisível. 
Antecipando a sua morte, o santo ofertava a todos o seu maravilhoso exemplo de humildade. Chamou os irmãos e disse-lhes sobre as medidas para com o seu corpo após sua morte: "Peguem o meu corpo pecador pelas pernas e o arraste para um matagal pantanoso e, depois de cobri-lo com peles, o joguem no pantano" Os irmãos responderam: "Não, pai, não nos é possível fazer isso." Então o asceta santo ordenou que seu corpo não fosse mantido no mosteiro, mas em um lugar de reclusão, a Igreja da Transfiguração do Senhor. 
Santo Alexander partiu para o Reino celestial em 30 de agosto de 1533 na idade de 85 anos.
Ele foi glorificado pelos maravilhosos milagres realizados durante sua vida e após sua morte. 



Em 1545, seu discípulo e sucessor, Igumeno Herodion, compilou sua vida. Em 1547 a celebração do lago santo foi instituída, através de um serviço foi composto por ele.
Em 17 de abril de 1641, durante a reconstrução da Igreja da Transfiguração, as relíquias de Santo Alexandre de Svir foram descobertas incorruptas e sua celebração pela Igreja universal foi estabelecida em duas datas: No dia do seu repouso, 30 de agosto, e no dia da glorificação (a descoberta de suas relíquias), 17 de abril.





Ele liderou uma grande multidão de discípulos, como a Mãe de Deus lhe havia prometido. Entre eles estão os Santos Monges Inácio, Leonidas, Cornélio, Dionísio, Atanásio, Teodoro, e Terápio, todos de Ostrov.
Além destes santos, existem os discípulos de Santo Alexandre de Svir que são comemorados em dias diferentes, como Santo Atanásio de Syandem (18 de janeiro), São Gennadius de Vasheozersk (09 de fevereiro), São Macário de Orodezh (09 de agosto), São Adriano de Ondrosov (17 de maio), São Niceforo Vasheozersk (09 de fevereiro), São Gennadius de Kostroma e Liubimograd (23 de janeiro). 
Todos estes santos (exceto São Gennadius de Kostroma) são retratados no ícone dos Padres monásticos que brilharam na terra de Karelia (ícone da igreja no Seminário de Kuopio, Finlândia). A celebração festiva do Sinaxe dos Santos, que resplandeceu em Karelia é comemorada pela Igreja Ortodoxa Finlandesa no primeiro Sábado 
compreendido entre 31 de outubro e 06 de novembro. 



As relíquias incorruptas do santo foram retiradas do Mosteiro de Svir pelos bolcheviques em 20 de Dezembro de 1918, após várias tentativas infrutíferas de confiscá-las. 
Houve uma infame campanha para liquidar as relíquias dos santos, que teve seu apogeu entre os fatídicos anos de 1919 a 1922. As santas relíquias de muitos santos russos foram roubadas e submetidas as "análises científicas" ou exibidas em museus anti-religiosos, para sofrer todo o tipo de escarnio. Muitas delas foram totalmente destruídas.
Esperando poder provar que as relíquias eram falsas, os soviéticos realizara, muitos testes. 
No entanto, os testes só confirmavam o caráter genuíno das relíquias. 
Finalmente, as relíquias sagradas foram transladadas para os militares da Academia Medida de Petrogrado. E lá eles permaneceram por quase oitenta anos.


A segunda descoberta das relíquias de São Alexander Svir ocorreu em Dezembro de 1997. 
As relíquias foram encontradas novamente incorruptas, do modo igual ao qual foram confiscadas, com a aparência do santo combinando com a descrição dos registos de 1641.
Uma vez que foi comprovado que eram verdadeiramente as relíquias de Santo Alexandre, o Metropolita Vladimir, de São Petersburgo, permitiu o seu translado para a igreja de Santa Sofia e suas três filhas,Fé, Amor e Esperança, para lá permanecer durante quatro meses, antes do retorno ao Mosteiro de Svir.
Quando os devotos iam venerar as relíquias de São Alexander, foi notado que delas exalava uma fragrância de mirra. 
As santas relíquias foram levadas para Mosteiro de Santo Alexander Svir em Novembro de 1998, e curas milagrosas continuam até os dias de hoje a se realizar diante delas.





Beato Estephan Nehme


O Irmão Estephan Nehme nunca descansou, sua vida centrada em viver o regimento da Ordem Maronita Libanesa e sua espiritualidade com rigor e integridade, seguindo os passos dos monges justos, distribuindo seu tempo entre o trabalho e as orações, até os últimos dias de sua vida.

Corpo do Beato Estephan Nehme, encontra-se intacto.



O Padre Antonios Nehme, Superior do Mosteiro de Kfifane, 
escreveu no registo dos monges falecidos, número 22:
“Na terça-feira, 30 de agosto de 1938, às 19h00, 
B. Estephan de Lehfed deixou este mundo efêmero aos 49 anos. um monge prestativo e dedicado aos interesses do mosteiro. Ele era forte e robusto, pacífico, gentil e sóbrio. Ele trabalhava no campo e era hábil no trabalho manual. Ele respeitou seus deveres, bem como seus votos e cumpriu o exigido missão meticulosamente."


Mãos do Beato Estephan Nehme.

Em 1950, seu cadáver foi considerado flexível. Quando os cofres foram reabertos em 10 de março de 1951, alguém notou que seu cadáver e as roupas ainda estavam intactos. A notícia se espalhou e atraiu a curiosidade dos moradores, de modo que os cofres foram fechados. Em 29 de setembro de 1962, o corpo foi inspecionado por um médico, que encontrou o cadáver intacto e quase sem decomposição: membros, músculos e a pele da barriga ainda estavam flexíveis, e os cabelos da cabeça e barba estavam intactos.

Em que consistia a espiritualidade do Beato Estephan Nehme? 
Diz-se que, desde a infância, ele costumava dizer: “Deus está me observando”. Ou seja, ele viveu com uma sensação constante da presença de Deus. Isso também é demonstrado por outro ditado que lhe é atribuído: “A vida monástica é uma união total com Deus e com a Virgem Maria”.

Ele era piedoso e era conhecido por ser generoso, alimentando os pobres em tempos de fome. Ele era um trabalhador voluntário e também bom, sendo competente no campo, na carpintaria e na adega.

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Como tantos santos maronitas, tudo o que ele fez foi seu dever em uma vida normal, mas o cumpriu plenamente: amar a Deus primeiro e depois ao próximo como a si mesmo, por amor a Deus. 
Não houve discursos famosos, 
nem realizações célebres, 
apenas santidade em sua posição na vida.

Não há necessidade de entrar em detalhes sobre os milagres atribuídos à sua intercessão, embora um deles diga respeito a um menino australiano. Outro envolveu sua sobrinha, uma freira. Ele foi beatificado em 27 de junho de 2010.

fontes: https://stcharbel.blogspot.com/2010/12/estephan-nehme.html
https://www.facebook.com/estephannehme/photos/a.344121115626563/1103574519681215
https://www.wattpad.com/187335998-god-sees-me-the-death-of-brother-estephan
https://www.fryuhanna.com/2020/08/27/blessed-estphan-nehme/

sábado, 12 de agosto de 2000

Santa Joana Francisca de Chantal

Santa Joana Francisca de Chantal

Comparável à Mulher forte da Sagrada Escritura. A co-fundadora da Ordem da Visitação, modelo de esposa e mãe, desligou-se da família para tornar-se, em meio a grandes provações, exemplo de santidade na vida religiosa.

No século XVI, a heresia protestante devorara como um câncer quase toda a Alemanha.
Lançando metástases pela Europa, penetrou tão perigosamente na França, que em breve seu poderio foi o de um Estado dentro do Estado.
Aproveitando-se da fraqueza e omissão da dinastia francesa dos Valois, dirigida efetivamente pela inescrupulosa Catarina de Medicis, e do apoio de membros da mais alta nobreza, seduzidos pela nova heresia, esta ameaçava a própria existência da única e verdadeira religião, a Católica.

Diante do perigo, os católicos, liderados pela família dos duques de Guise, formaram uma Liga Santa para a defesa de sua Religião. Dissolvida por Henrique III, a referida Liga renasceu em 1587, quando o Tratado de Beaulieu favoreceu demasiadamente os huguenotes, como eram chamados os protestantes na França.

Da Liga fazia parte o enérgico e ardente católico Benigno Fremyot, Presidente do Parlamento da Borgonha, casado com Margarida de Berbisey. Foi nesse ambiente, carregado das guerras de religião, que nasceu Joana, segunda filha deste casal.


Não há dúvida de que o amor materno é insubstituível na formação moral e religiosa da prole. O caso do Presidente Fremyot foi uma das notáveis e raras exceções a essa regra. Joana tinha apenas 18 meses quando faleceu a mãe, no parto do terceiro filho, André. Benigno Fremyot supriu a falta da esposa dando aos filhos uma educação ao mesmo tempo afetuosa e viril. Dos três que teve, a primeira faleceria piedosamente poucos anos depois de casada; a segunda seria elevada à honra dos altares; e o último, por sua virtude e qualidades morais, tornar-se-ia, aos 21 anos, Arcebispo de Bourges e amicíssimo de São Francisco de Sales.

São Francisco de Sales

O Presidente Fremyot os reunia de manhã e à noite para ensinar-lhes a rezar, conhecer e amar a verdadeira Igreja e o Papa.

Desde cedo, enérgica rejeição da heresia. A pequenina Joana foi dotada pela Providência de um carisma especial, que a levava, mesmo antes do uso da razão, a discernir os hereges. Quando, nos braços da ama, via um deles, começava a chorar. E se este queria acariciá-la, gritava e escondia a cabeça no peito da ama, não se tranqüilizando até que o perdesse de vista.
Um fato muito conhecido, mas que vale a pena relembrar, foi o que se passou quando ela tinha apenas cinco anos.
Devido à sua profissão, o Sr. Fremyot recebia muitas vezes influentes protestantes em sua casa. Havia um que, como é característico deles, não deixava escapar a ocasião para uma discussão teológica. Ora, uma vez em que a pequena Joana estava presente na sala, aparentemente absorta com algum brinquedo, o herege negou a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Hóstia consagrada. Ao ouvir isto, a menina não pôde conter-se; aproximando-se dele, olhou-o com emoção e disse: “Senhor, é preciso crer que Nosso Senhor Jesus Cristo está presente no Santíssimo Sacramento, porque Ele mesmo o disse! Se vós não O credes, fá-Lo-eis passar por mentiroso”.
O protestante, admirado, começou a argumentar com ela. Mas Joana, dotada da sabedoria da inocência, respondia-lhe à altura. Para terminar amigavelmente a conversa, o herege ofereceu-lhe um punhado de caramelos. A menina os recebeu em seu avental e foi jogá-los diretamente na lareira fumegante, dizendo-lhe:
“Vede, senhor, vede. Assim arderão os hereges no fogo do inferno por não quererem crer nas palavras de Nosso Senhor!”


Em outro dia em que o renitente herege recomeçou a discussão, a pequena Joana acercou-se dele e lhe disse energicamente: “Senhor, se tivésseis ofendido o Rei, meu pai vos mandaria enforcar. Se desmentis a Nosso Senhor, estes dois Presidentes (apontou para um quadro representando São Pedro e São Paulo) mandar-vos-ão enforcar” (1).

Quando seus filhos foram crescendo, o Presidente Fremyot contratou mestres escolhidos para reforçarem sua formação. “Joana aprendia com grande facilidade e viveza de imaginação. E, dado seu bom talento e a posição que ocupava no mundo, foi-lhe ensinado tudo o que deveria saber uma jovem de sua classe: ler, escrever, dançar, tocar instrumentos de música, canto, os labores próprios ao seu sexo, etc.” (2).
Ao receber a Confirmação, por devoção ao Poverello de Assis, Joana acrescentou ao seu o nome de Francisca.


No matrimônio e na viuvez: fortaleza e generosidade.

Aos 20 anos, Joana Francisca foi dada pelo pai em casamento ao Barão de Chantal, valoroso oficial do exército francês e católico, embora desde a morte da mãe ele levasse uma vida um tanto dissipada.
O primeiro cuidado de Joana foi conquistar o coração do marido para levá-lo inteiramente a Deus. Isso não foi difícil, pois o Barão, além das boas predisposições que possuía, percebeu logo que Deus lhe tinha dado por esposa uma santa. A união entre eles foi tão grande que se dizia que tinham um só coração. Ao mesmo tempo a baronesa estabeleceu, com bondade e firmeza, a ordem e a disciplina no seio da numerosa criadagem do castelo.
Quando seu marido estava ausente, Joana entregava-se mais a Deus e ao exercício da caridade. Cuidava dos pobres e dos enfermos com suas próprias mãos e supria a todas suas necessidades. Em breve, ficou conhecida na região como a santa Senhora. Deus quis, em duas ocasiões, demonstrar a virtude de Sua serva mediante o milagre da multiplicação do trigo para alimentar os pobres, em época de grande fome.
O casal foi abençoado com seis filhos, dos quais os dois primeiros faleceram apenas nascidos. Sucederam-lhes outro filho e três filhas, tendo à última nascido poucas semanas antes da morte do Barão.
Mortalmente ferido por seu melhor amigo num acidente de caça, recebeu os últimos Sacramentos, perdoou seu homicida e recomendou à Baronesa que se resignasse à vontade de Deus.
Joana ficava assim viúva aos 28 anos, com quatro filhos para educar e o baronato para dirigir. Foram-lhe necessárias toda sua fé e energia para aceitar o rude golpe. Mas recebeu muitas graças nessa época, o que a levou a afirmar mais tarde que, não fossem os filhos tão pequenos, teria tudo abandonado para ir terminar seus dias em Jerusalém, consagrada inteiramente a Deus.
Essa alma forte e generosa foi submetida na viuvez a novas provações! O Barão de Chantal – sogro de Joana, cujo caráter orgulhoso, vaidoso e extravagante ela conhecia — sentindo-se muito só em sua velhice, queria que a jovem viúva, com os filhos, fosse lhe fazer companhia.
No novo domicílio – cuja desordem era igualmente de seu conhecimento — Joana entregou-se a todas as obras de apostolado e misericórdia por ela desenvolvidas no anterior. Mas sentindo a necessidade de encontrar um bom diretor espiritual, pediu insistentemente a Deus essa graça.


Conjugação de dois Santos transpõe obstáculos insuperáveis.
Em 1604, o já merecidamente célebre Bispo de Genebra, São Francisco de Sales, foi pregar a quaresma em Dijon, cidade natal de Joana. Esta convenceu o sogro a trasladarem-se para a casa de seu pai para seguirem os sermões.
O grande pregador, a quem Deus mostrara em sonhos sua futura penitente, imediatamente a reconheceu, atenta e recolhida, em meio aos fiéis. Esta também reconheceu com emoção aquele que Deus designara para seu pai espiritual. Começou assim um dos mais belos parentescos espirituais da História da Igreja, que tantos e tão belos frutos produziria.
São Francisco de Sales traçou-lhe uma minuciosa regra de vida. Sob sua direção, Santa Joana de Chantal progrediu tão rapidamente, que o santo se admirava, dando graças a Deus.


Aos poucos maturava na mente do Bispo de Genebra o projeto de uma nova congregação religiosa, com regras adaptadas a virgens e viúvas que, desejando servir a Deus, não se sentiam atraídas pelas grandes austeridades das famílias religiosas já existentes. Teriam como oração em comum somente o Ofício Parvo de Nossa Senhora; deveriam dedicar-se também à assistência dos pobres e enfermos.

Joana pôs-se à sua disposição para a realização da obra assim que seus filhos estivessem encaminhados.
A mão de Deus fez-se então sentir para abreviar o tempo de espera. A Baronesa de Chantal tornara-se amicíssima da Baronesa de Boissy, mãe de São Francisco de Sales, senhora virtuosíssima, viúva e mãe de 13 filhos. Tal era a confiança que esta tinha em Joana que, a conselho de São Francisco, confiou à jovem viúva a educação de sua caçula, de nove anos. Esta veio a falecer poucos anos depois nos braços de Santa Joana.
Para unir por laços mais fortes que os da amizade as duas famílias, a Senhora de Boissy propôs o casamento de seu filho, Barão de Thorens, de 14 anos, com Maria Amada, filha mais velha de Santa Joana, então com 12. O casamento foi oficiado por São Francisco de Sales e, como era costume na época, a jovem esposa foi viver com a família do marido até atingir a idade núbil.
Santa Joana confiou o filho, Celso Benigno, ao avô, Presidente Fremyot, que com a ajuda de um virtuoso preceptor completaria a educação do adolescente. Levando as duas filhas para terminar sua educação no convento, a Baronesa de Chantal ficava assim livre para a realização da grande obra.
Antes de partir, renunciou a todos seus bens em favor dos filhos e embarcou para Annecy, que fazia parte então do Ducado da Sabóia. Pouco depois, Deus chamou a Si a filha caçula de Joana, aquela a quem ela mais amava por sua inocência e docilidade.


Cofundadora e alma da Congregação da Visitação.

Em Annecy já a esperavam três donzelas virtuosas, dirigidas de São Francisco de Sales, que com ela principiariam a obra.
A Congregação idealizada pelo Bispo de Genebra era uma inovação. Até então só havia conventos de reclusas. Na recém-fundada Congregação – denominada da Visitação – as religiosas não guardariam clausura, pois deveriam cuidar dos pobres, o que suscitou muitas controvérsias.
Apesar da pobreza e das críticas recebidas, novas postulantes foram ingressando na Congregação e três jovens viúvas de Lyon pediram licença para lá fundar uma casa. Nessa ocasião, interveio o Cardeal Arcebispo local, convencendo São Francisco de Sales a erigir e transformar a Congregação em Ordem religiosa e aceitar a obrigação da clausura perpétua. O Fundador, tendo aceito a proposta, estipulou contudo que em seus conventos se pudessem receber senhoras e donzelas que quisessem retirar-se temporariamente para pôr em ordem sua consciência.
Embora muito atenuada em relação às regras existentes, no que se refere a penitências, jejuns e longos ofícios em comum, São Francisco de Sales reforçou a pobreza e a obediência da nova instituição. Nenhuma religiosa poderia ter nada seu, nem mesmo o hábito ou o rosário que usava. Cada ano havia uma rotação de tudo, inclusive livros e objetos de piedade.
A finalidade visada por São Francisco de Sales para sua Congregação seria levada avante pouco depois por seu grande amigo, São Vicente de Paulo, mediante a criação das Filhas da Caridade.
Foi cedendo a instâncias da Madre Chantal e dedicando-o a suas filhas da Visitação, que São Francisco de Sales escreveu seu famoso Tratado do Amor de Deus.
“Minha filha, disse-lhe o santo Bispo, o Tratado do Amor de Deus está escrito para vós”. No prefácio da obra, ele diz: “Como Deus sabe o muito que estimo essa alma, não foi pouco o que ela influiu nesta ocasião… o que mais me moveu a levar avante meu projeto foram as reiteradas instâncias desta alma”.


Sofrimento modela “alma das mais santas”

Àqueles a quem ama, Nosso Senhor presenteia com sua Cruz. Como alma eleita e muito sensível ao afeto, a Providência foi tirando de Santa Joana suas mais caras afeições para que se desapegasse inteiramente das criaturas.
Sua mãe morreu muito cedo. Apenas casada, foi-lhe arrebatada a irmã que com ela compartira a orfandade, deixando-lhe como herança três orfãozinhos. Dois de seus filhos faleceram recém-nascidos e o marido foi-lhe arrebatado num acidente de caça, deixando-a viúva aos 28 anos. Viu morrer, sucessivamente o pai, o sogro, os quatros filhos, a nora e um genro, tornando-se, aos 60 anos e já superiora da Visitação, a “mãe” de seus netos. Cabe mencionar que seu único filho varão, Celso Benigno, morreu heroicamente aos 31 anos, lutando contra os protestantes na ilha de Rhé. Sua esposa seguiu-lhe na tumba pouco depois, deixando uma filhinha de um ano, que viria ser a famosa epistológrafa Madame de Sevigné.

A cada novo luto, Santa Joana de Chantal superava-se a si própria, saindo do convento para cuidar dos interesses de seus filhos com um tino e uma habilidade superiores. Não deixava, em meios aos negócios do mundo, de ser menos religiosa que no mosteiro. Irradiava por toda parte o reflexo de sua santidade, suscitando verdadeira veneração. Só ao contemplá-la, várias donzelas foram atraídas ao seu convento.

A estas provações somaram-se as espirituais, como tentações terríveis, algumas vezes contra a fé. Conheceu a noite escura e a secura espiritual para chegar a um grau sublime de contemplação. São Vicente de Paulo afirmou que, embora aparentando paz e tranqüilidade, Santa Joana “sofria terríveis provas interiores. Via-se tão assediada de tentações abomináveis, que tinha que apartar os olhos de si mesma com horror para não contemplar esse espetáculo insuportável… Em meio a tão grandes sofrimentos, jamais perdeu a serenidade nem esmoreceu na plena fidelidade que Deus lhe exigia. Por isso a considero como uma das almas mais santas que encontrei sobre a terra”.
Após a morte de São Francisco de Sales, não só consolidou a obra nascente, mas a fez expandir. Durante sua vida, os mosteiros da Visitação elevaram-se a 65. A todos visitou para satisfazer o desejo que muitas de suas filhas espirituais tinham de conhecê-la.
Em 1641, a rainha Ana d’Áustria convidou-a para ir a Paris, cumulando-a de honras e distinções. Era a exaltação que a Realeza prestava à Santa que foi, em vida, comparável à própria Mulher forte do Antigo Testamento.
Meses depois, foi ela receber, no Céu, a recompensa demasiadamente grande que Deus reserva a seus eleitos.
Entregou sua alma a Deus em Moulins, a 13 de dezembro de 1641. Foi beatificada por Bento XIV a 13 de novembro de 1751 e canonizada por Clemente XIII em 16 julho de 1767.

"QUE O SENHOR NOS DÊ A GRAÇA 
PARA VIVER E MORRER 
NO SEU SAGRADO CORAÇÃO" 
(SANTA JOANA DE CHANTAL).


Coração e os olhos (nas mãos dos anjos) incorruptos, de Santa Joana de Chantal.

Estas relíquias se veneram no Mosteiro da Visitação de Nevers, França.

Beato Inocêncio XI








sexta-feira, 11 de agosto de 2000

Santa Clara de Assis

SANTA CLARA DE ASSIS

11 DE AGOSTO


Clara nasceu em Assis, no ano 1193, no seio de uma família da nobreza italiana, muito rica, onde possuía de tudo. Porém o que a menina mais queria era seguir os ensinamentos de Francisco de Assis. Aliás, foi Clara a primeira mulher da Igreja a entusiasmar-se com o ideal franciscano. Sua família, entretanto, era contrária à sua resolução de seguir a vida religiosa, mas nada a demoveu do seu propósito.


No dia 18 de março de 1212, aos dezenove anos de idade, fugiu de casa e, humilde, apresentou-se na igreja de Santa Maria dos Anjos, onde era aguardada por Francisco e seus frades. Ele, então, cortou-lhe o cabelo, pediu que vestisse um modesto hábito de lã e pronunciasse os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência.





Depois disso, Clara, a conselho de Francisco, ingressou no Mosteiro beneditino de São Paulo das Abadessas, para ir se familiarizando com a vida em comum. Pouco depois foi para a Ermida de Santo Ângelo de Panço, onde Inês, sua irmã de sangue, juntou-se a ela.


Pouco tempo depois, Francisco levou-as para o humilde Convento de São Damião, destinado à Ordem Segunda Franciscana, das monjas. Em agosto, quando ingressou Pacífica de Guelfúcio, Francisco deu às irmãs sua primeira forma de vida religiosa. Elas, primeiramente, foram chamadas de "Damianitas", depois, como Clara escolheu, de "Damas Pobres", e finalmente, como sempre serão chamadas, de "Clarissas".

Em 1216, sempre orientada por Francisco, Clara aceitou para a sua Ordem as regras beneditinas e o título de abadessa. Mas conseguiu o "privilégio da pobreza" do papa Inocêncio III, mantendo, assim, o carisma franciscano. O testemunho de fé de Clara foi tão grande que sua mãe, Ortolana, e mais uma de suas irmãs, Beatriz, abandonaram seus ricos palácios e foram viver ao seu lado, ingressando também na nova Ordem fundada por ela.

A partir de 1224, Clara adoeceu e, aos poucos, foi definhando. Em 1226, Francisco de Assis morreu e Clara teve visões projetadas na parede da sua pequena cela. Lá, via Francisco e os ritos das solenidades do seu funeral que estavam acontecendo na igreja. Anteriormente, tivera esse mesmo tipo de visão numa noite de Natal, quando viu, projetado, o presépio e pôde assistir ao santo ofício que se desenvolvia na igreja de Santa Maria dos Anjos. Por essas visões, que pareciam filmes projetados numa tela, santa Clara é considerada Padroeira da Televisão e de todos os seus profissionais.




Depois da morte de são Francisco, Clara viveu mais vinte e sete anos, dando continuidade à obra que aprendera e iniciara com ele. Outro feito de Clara ocorreu em 1240, quando, portando nas mãos o Santíssimo Sacramento, defendeu a cidade de Assis do ataque do exercito dos turcos muçulmanos.


No dia 11 de agosto de 1253, algumas horas antes de morrer, Clara recebeu das mãos de um enviado do papa Inocêncio IV a aguardada bula de aprovação canônica, deixando, assim, as sua "irmãs clarissas" asseguradas. Dois anos após sua morte, o papa Alexandre IV proclamou santa Clara de Assis.















sexta-feira, 4 de agosto de 2000