quinta-feira, 27 de julho de 2000

Milagre do sangue de São Pantaleão


Não confundir com o sangue de São Januário

No momento em que a cabeça do santo mártir rolava pelo chão, os cristãos recolheram o sangue que brotava da ferida e guardaram-no com todo o respeito em ampolas de vidro.
Uma delas conserva-se em Ravello, na Itália; outra, no mosteiro da Encarnação, em Madrid, muito próximo do Palácio Real do Oriente, onde as freiras Agostinhas o guardam cuidadosamente na Capela das Relíquias.
Tal como acontece cada ano em Nápoles, no dia 19 de Setembro, com o sangue de S. Januário, também o sangue de S. Pantaleão referve e liquefaz-se todos os anos no aniversário do martírio, dia 27 de Julho, tanto em Madrid como em Ravello.
No dia 26 de Julho, pela manhã, a preciosa relíquia é levada para a igreja. Quem quiser pode observar o sangue sólido, pois a ampola está patente a todos. Durante a tarde, véspera da festa do santo, o sangue torna-se pastoso e vermelho vivo. No dia seguinte, festa de São Pantaleão, fica fluído e inteiramente líquido. Ao entardecer, coagula
até que à noite, ao ser reposto na Capela, se apresenta completamente sólido.
O prodígio verifica-se todos os anos, desde o século XVII, em que o precioso tesouro foi oferecido ao Convento da Encarnação pela Rainha Margarida da Áustria, esposa de Filipe III.
O primeiro exame canônico teve lugar em 1718, há 262 anos. A pedido da Prioresa do Mosteiro, o Arcebispo de Compostela, Dom Miguel Herrero Esqueva, nomeou uma comissão para estudar e verificar a liquefacção e condensação do sangue. Perante o notário Dom Álvaro de Mendoza Caamanho prestaram o seu depoimento com juramento treze testemunhas. Depois de seis anos de estudo e investigação, foi publicada a sentença, que declara verdadeira e autêntica a liquefacção do sangue de S. Pantaleão.
Em Nápoles, quando no dia 19 de Setembro o sangue de S. Januário NÂO SE LIQUEFAZ, o fato é considerado sinal de próxima calamidade.
Com o sangue de S। Pantaleão acontece o contrário. Quando passado o dia 27 de Julho, e PERMANECE LÍQUIDO, tanto em Espanha como em Itália, o fato é considerado má predição.


Em 1913, em Ravello, o sangue não secou no dia 27 de Julho e um ano depois, em 1914, começou a Grande Guerra.
O mesmo sucedeu no mosteiro da Encarnação em Madrid, onde o sangue se conservou líquido durante toda a Grande Guerra de 1914 a 1918 e na Segunda Grande Guerra de 1939 a 1945.
Em Julho de 1936 o sangue liquefaz-se no dia próprio, 27 de Julho, mas não tornou a secar, senão passados três anos, ao terminar a guerra civil, em 1939.
A 27 de Julho do ano passado, 1979, o sangue liquefez-se, mas desde então, há mais de um ano, não voltou a condensar-se. Será sinal de calamidades para a Espanha? E também para o mundo? O jornal "Cavaleiro da Imaculada", de 10 de Junho, publicou a seguinte carta escrita por um português residente em Madrid:
"O sangue de S. Pantaleão Mártir, que se venera em Madrid no Convento da Encarnação e que todos os anos se liquefaz no dia 27 de Julho, e se coagula a seguir, permanece liquefeito desde aquela data, o que é considerado como anúncio de calamidade. Sucedeu o mesmo antes da Primeira Grande Guerra; igualmente se verificou caso idêntico antes e durante o período da guerra civil de Espanha e ainda quando da 2ª. Grande Guerra Mundial.
Algumas freiras veteranas que vivem no mosteiro e foram testemunhas destes fatos passados, mostram-se apreensivas e pensam que algo de muito grave está para suceder".
A revista espanhola "Maria Mensajera" (nº. 64 de 1980) pergunta:
"Continua líquido desde há meses o sangue de S. Pantaleão. Quando isto aconteceu em ocasiões anteriores foi sempre prenúncio de catástrofes. E agora?..."




Sangue de São Pantaleão


segunda-feira, 24 de julho de 2000

São Charbel Makhlouf

 


São Charbel Makhlouf, símbolo de união entre Oriente e Ocidente, beatificado no dia 5 de dezembro de 1965 e canonizado no dia 9 de outubro de 1977, foi o primeiro confessor do Oriente venerado de acordo com o procedimento da Igreja Católica Apostólica Romana. Libanês, São Charbel foi membro da Ordem Libanesa Maronita e filho da Igreja Maronita. Esta deve o seu nome a um anacoreta oriental, São Maron (Marun), falecido em 410. A Igreja Maronita, cujo centro se encontra no Líbano, tem a honra de ter como língua litúrgica o aramaico, a língua falada por Jesus Cristo; ela também tem a honra de ter permanecido sempre católica, apostólica, romana. A Igreja Maronita foi à única Igreja oriental que ficou sempre ligada ao Santo Padre, o Papa.

São Charbel nasceu no dia 8 de maio de 1828, numa aldeia montanhosa maronita, chamada Beqa Kafra, a mais alta do Líbano, a 1.600 metros de altitude, situada nas proximidades dos Cedros do Líbano, com vista panorâmica sobre a Vale de Qadisha, conhecido por "Vale Santo". Era o quinto filho do casal Antun Zarour Makhlouf e Brígita Al-Chidiac, batizado com nome de Youssef (José). De família modesta e muito respeitada, o pai era um simples camponês, mas de uma fé sólida e inabalável. Sua mãe igualmente muito piedosa. Neste ambiente de simplicidade, piedade e honestidade, cresceu o pequeno Youssef. Quando completou seu terceiro ano, perdeu seu pai que foi requisitado pelo exército otomano (turco) para transporte de material e trabalhos forçados.

Órfão de pai, Youssef freqiientava, em companhia de outras crianças seus colegas, a escola paroquial de sua aldeia. Notava-se que ele era muito religioso. De fato, todas as noites,antes de irem dormir, as crianças, como estava acontecendo nas maiorias das famílias maronitas daquele tempo, ajoelhadas em volta da mãe, repetiam as preces que ela fazia, enquanto o incenso queimava num prato sobre um altarzinho suspenso à parede onde Nossa Senhora ocupa um lugar central, em meio aos santos.
 

Vocação
Desde a primeira infância, Youssef manifestou uma tendência muito pronunciada para a devoção e para a meditação. Às vezes, ele abandonava seus companheiros e retirava-se para rezar sozinho numa gruta que foi denominada, a princípio ironicamente, "a gruta do santo". Já adolescente, no inverno, como a neve cobria os campos e as casas - às vezes tinha quatro metros de neve - Youssef ajudava sua mãe no trabalho doméstico, sobretudo a cozer o pão libanês que se preparava em casa. Mas na primavera, Youssef levava a vaca e os cordeiros da família a pastarem, e ajudava o tio paterno, Tanios, nos trabalhos agrícolas, sobretudo a cultivar as amoreiras para criar o bicho da seda (charanek el azz), ou "a safra do esplendor" (mawssem el izz), naquele tempo, principal meio de vida de toda a montanha libanesa. Assim, Youssef trabalhava e, ao mesmo tempo, aprendia a ler e escrever sob o carvalho da igreja que funcionava como escola da aldeia. Mas seu coração não estava em nada disto. Ele pedia à Santíssima Virgem, tão venerada pelos Maronitas, que o ajudasse para se tornar monge como seus dois tios maternos que eram eremitas no mosteiro de Santo Antão de Qozhaya que pertence a Ordem de Santo Antão Libanesa Maronita.

Num mundo sem interesse para ele, Youssef começou realmente a sentir a nostalgia de Deus. Já ouvia uma forte voz interior a chamá-lo: "Deixa tudo e segue o Cristo para ganhar Tudo". Sendo ainda jovem, aos 23 anos, e apesar da afeição da mãe por ele, bem como da oposição de seu tio paterno, pois precisava dos braços do moço para sustentar a família, e da solicitação de uma jovem vizinha, Míriam, que, apaixonada, queria casar-se com ele, Youssef preferiu responder ao chamado de Deus e abraçar a vida monástica. Em 1851, bem cedo e sem avisar ninguém, nem mesmo a sua mãe, Youssef deixou a sua aldeia e se apresentou no mosteiro de Nossa Senhora de Mayfouq da Ordem Libanesa Maronita, na região de Jbeil (Byblos). Assim, aos 23 anos de idade, o jovem Youssef fez seu primeiro ano de noviciado neste mosteiro, superando todas as provas, e escolheu por nome religioso "Charbel", em honra a São Charbel, martirizado no Oriente Médio em 121 de nossa era cristã. Nada podia desviar o irmão Charbel desta desisão livre e inspirada. De fato, sua mãe e outros parentes visitaram-no muitas vezes no mosteiro para tentar dissuadi-lo, mas ele tinha sempre uma só resposta: "Deus me quer inteiramente para Ele".
 

Profissão Monástica
Terminando o primeiro ano de noviciado, o irmão Charbel foi enviado ao mosteiro de São Marun de Annaya para fazer seu segundo ano de provação. É bom sublinhar que a primeira pedra deste mosteiro onde viveria e seria sepultado Padre Charbel foi posta no mesmo ano de nascimento do nosso santo em 1828.

Na vida religiosa, o noviço deve cantar o Ofício sete vezes por dia em aramaico, a língua falada por Jesus Cristo na Palestina; ele também deve praticar a penitência e estudar a liturgia e a vida monástica. Além disso, ele desempenhava os trabalhos domésticos do mosteiro, tanto internos como externos: lavar a roupa, fazer o pão, cultivar a terra, ser mesmo sapateiro-remendão, carpinteiro, agricultor, etc... Em suma, os monges daquele tempo procuraram a viver "o regime de auto-suficiência".

Em 1853 e aos 25 anos de idade, no fim do noviciado, ele fez no mosteiro de Annaya sua profissão monástica ou seja os votos solenes de obediência, castidade e pobreza, no dia primeiro de novembro de 1853.
 

Ordenação Sacerdotal
Charbel, já professo, foi enviado ao mosteiro de São Cipriano em Kfifan (Batroun), que era na época o Escolasticado ou o Seminário de Teologia da Ordem Libanesa Maronita; neste mosteiro, ele foi aluno de nosso novo Beato Padre Nimatullah Kassab Al-Hardini, na Teologia e no caminho da santidade. Em todas as matérias, o irmão Charbel se destacava sempre entre os primeiros estudantes. Terminando o curso de Filosofia e de Teologia, Charbel foi ordenado sacerdote em 23 de julho de 1859, em Bekerké, sede patriarcal maronita. Recebeu em seguida a ordem de seus superiores para voltar ao mosteiro de São Marun de Annaya, onde permaneceu em comunidade - vida comum - antes de retirar-se definitivamente para uma vida de eremita. Neste mosteiro, sua vida era dividida entre as orações e o trabalho: "Ora et Labora".
 

Vocação de Eremita
Segunda a tradição monástica oriental, a vida monástica atinge o seu auge numa vida solitária: "Estar a sós com o Único". A vida comunitária era considerada como um período de transição ou de formação para uma vida propriamente eremita. Este ideal permanecia muito vivo na vida monástica maronita que preservava um posto de honra a seus eremitas. Atualmente, para tornar-se os êmulos de São Charbel, dois monges da Ordem Libanesa Maronita são já erectas: padre Antônio Chaina no cemitério de São Boula no mosteiro Santo Antão de Qozhaya, e padre João Khawand no eremitério de Santo Antão no mosteiro Nossa Senhora de Tamish.

O Padre Charbel sentia a vocação para a vida solitária. Em várias ocasiões solicitou a autorização para retirar-se a um eremitério. Depois de muita insistência da parte de nosso Santo, e após uma comprovação da dita vocação da parte do superior da Ordem, foi-lhe concedida à autorização de viver num eremitério, pertencente ao mosteiro de São Marun de Annaya. Conforme as normas da Ordem Libanesa Maronita, o eremita permanece sob a jurisdição do superior de seu convento, fazendo parte da comunidade, e sua vida é das mais austeras.
 

Qual foi aquela comprovação?
Um dia, Padre Charbel levou sua lâmpada - não tinha na época energia elétrica - à cozinha a fim de que o servente a abastecesse de azeite. O servente e seu companheiro, que eram adolescentes, querendo zombar do humilde monge, encheram a lâmpada de água. Padre Charbel, agradecendo gentilmente o servente, se recolhe à sua cela e acende a lâmpada, e ela permanece acesa. Os serventes brincalhões estavam observando. Ao ver a luz na cela de nosso Santo, perturbaram-se e correram a relatar o fato ao padre superior. Este vai imediatamente à cela e verifica que, de fato, a lâmpada está acesa, mesmo contendo só água. Um destes serventes, de nome Saba Mussa, sobreviveu ao Padre Charbel e, na idade de 60 anos, deu, sob juramento, testemunho do ocorrido.

No dia seguinte, o Padre Geral da Ordem, avisado deste milagre, autorizou imediatamente Padre Charbel a ocupar, no eremitério dos Santos Pedro e Paulo que pertence ao mosteiro de Annaya, a cela do padre Eliseo Kassab Al-Hardini, irmão de nosso novo Beato Nimatullah, que acabava de morrer. Assim Padre Charbel se tornou eremita no dia 15 de fevereiro de 1875, que era Ano Santo. Este eremitério está situado a 1.400 metros de altitude, e foi construído no ano 1798, dois séculos antes da morte de nosso Santo.

O eremita tem de procurar ser um novo crucificado, um novo cordeiro da Páscoa na Igreja de Cristo. Assim, seus dias são divididos entre as preces e meditações continuas, e trabalhos braçais nas propriedades do convento, mas nas vizinhas do eremitério. O regulamento permite-lhe dormir cinco horas por dia, para passar o resto do tempo rezando, pois, conforme São Charbel: "A prece relaxa os membros mais eficazmente que o sono". Às vezes, nosso Santo permanecia horas e horas a fio ajoelhando diante o Santíssimo Sacramento. Sua cela tinha seis metros quadrados. Se encontrava nela : um colchão de folhas de carvalho, uma lâmpada de azeite, um prato de madeira sobre um banquinho, uma pedra que serve de cadeira, os livros de preces, particularmente "A Imitação de Jesus Cristo ".

O eremita maronita tinha só uma refeição às 14:ao horas, que é composta por comida simples, em geral legumes verdes ou cozidos, cereais, azeitonas. Nunca comeu carne, nem frutas. Esta refeição é sempre entregue pelo convento. Bebeu só água. Padre Charbel dizia: "A pobreza favorece a salvação. A frugalidade fortalece a alma. Quero viver nas privações, ignorando os prazeres e as doçuras deste mundo. Quero ser o servidor de Cristo e de meus irmãos". Assim, o eremita Padre Charbel mal vestido, mas com vestes limpas, mal alimentado, mas com boa saúde, exposto sem defesa ao frio e ao calor, privado de qualquer conforto e qualquer ternura humana, era, entretanto, o homem mais feliz do mundo, pois o Senhor tornara-se sua verdade, sua força, sua riqueza, sua alegria e a razão da sua vida. Por isso, magro, seu rosto estava sempre radiante.
 

Morte
No dia 16 de dezembro de 1898 às 11:00 horas, o eremita Padre Charbel celebrava como de costume a santa missa na capela do eremitério quando foi atacado de paralisia no momento exato da Grande Elevação, enquanto recitava em aramaico "Aba Dcushto", a seguinte oração da Liturgia Maronita: "Ó Pai da verdade, eis o Vosso Filho, vítima de Vosso agrado, aceitai-O pois Ele sofreu a morte para minha justificação...Eis aqui o Seu sangue derramado sobre a gólgota para minha salvação... aceitai minha oferenda". A agonia durou 8 dias; após 23 anos de uma vida de eremita exemplar, São Charbel morreu no dia 24 de dezembro de 1898, na véspera do Natal, aos 70 anos de idade.

Ele morreu como morrem os Justos! Foi enterrado com simplicidade no cemitério do convento de São Marun de Annaya com outros monges já falecidos. Faleceu, mas podemos dizer que a sua verdadeira vida começou com a sua morte, pois, no Líbano como no mundo inteiro, São Charbel é sempre invocado.
 

Virtudes 
Piedoso, honesto, simples, sincero, assim foi o jovem Youssef em sua aldeia. No mosteiro adquiriu as virtudes cristãs, humanas e monásticas. Os testemunhos recolhidos mostram um São Charbel obediente com uma obediência quase legendária. Sua castidade era verdadeiramente angélica, que brilhava em todos os lugares onde se encontrava. Em sua pobreza alegre imitou os maiores Santos da Igreja, pois sabia perfeitamente que ao despojar-se de tudo neste mundo era imensamente rico no Senhor. O dinheiro, naturalmente, nada significava para ele: nem o dinheiro, nem o bem material. Nunca aceitava qualquer estipêndio pelas cerimônias religiosas das quais participava por ordem de seus superiores. Quando os fiéis insistiam, mandava entregar o dinheiro ao superior ou a outro monge.

São Charbel foi sempre um homem de oração; permanecia longas horas ajoelhando em frente ao Santíssimo, vivendo deste modo o preceito do Senhor: "Orai sem cessar". Venerava a Santíssima Virgem Maria de modo que seu coração se tornou um "coração mariano". Respeitava o próximo sem distinção de classes ou discriminação etária. Vivia como os "sacerdotes operários", escolhendo sempre o trabalho mais penoso e mais humilde, e dedicando-se exclusivamente à oração e ao trabalho : "Ora et Labora". Em resumo, suas orações incessantes, seus jejuns prolongados, suas mortificações e sua união com Deus fizeram dele um "anjo com forma humana".
 

Incorrupção
Após a morte, bem como durante a vida, Padre Charbel foi considerado um santo. No dia de sua inumação, o superior anotou no diário do mosteiro de São Marun de Annaya o seguinte: "No dia 24 de dezembro de 1898 Padre Charbel de Beqa Kafra, eremita, foi atacado pela paralisia; recebeu os últimos sacramentos, e morreu aos 70 anos de idade; foi sepultado no cemitério da comunidade, sendo superior o Padre Antônio Michmichâni. Os fatos "post-mortem"(após a morte) me dispensarão de dar maiores detalhes sobre sua vida. Fiel a seus votos, de obediência exemplar, sua conduta era mais angélica que humana". De fato, tratava-se de uma profecia que mais tarde se realizou.

O corpo de São Charbel permaneceu intacto depois de sua morte; inclusive transpirava. Este fenômeno de conservação e transpiração de corpo, desafiando as leis da natureza, fascinou os médicos, os homens de ciência e as pessoas mais simples. Em agosto de 1952, eu mesmo toquei no seu corpo; poderia dizer que era um "morto-vivo".

Que um cadáver se conserve não é um fenômeno único, porém que os restos mortais se conservem flexíveis, tenros, manejáveis, transpirando incessantemente, é um caso extraordinário e único no gênero. Este foi o caso de nosso Santo, cujo corpo se conservou e transpirou até o dia de sua Beatificação que se realizou no dia 5 de dezembro de 1965, no encerramento do Concilio Ecumênico Vaticano II. Podemos até dizer que seu corpo não conheceu a corrupção: depois de 1965, ele se decompôs simplesmente, e jamais se percebeu o odor que emana normalmente dos cadáveres ao abrir seus túmulos. Era ao contrário um odor agradável. Abriu-se o túmulo no dia 3 de fevereiro de 1976, e eu estive presente como responsável da sua Causa de Canonização; seu corpo está já decomposta, sobrando o esqueleto. No entanto os ossos conservam uma certa frescura e uma cor rosada (cor de vinho).

Conforme a ciência, me afirmaram dois médicos, seis meses depois da morte, o esqueleto do ser humano, normalmente, é formado de ossos brancos e perfurados. Até hoje, ano 1998, nunca este fenômeno se encontrou no esqueleto de São Charbel. Em suma, seu corpo foi conservado até a sua Beatificação, depois ele "se volatilizou", sobrando o esqueleto que é conservado de uma maneira extraordinária.
 

Graças e Milagres
Nosso Senhor, por intercessão de nosso Santo, fez muitos milagres, mesmo na sua vida como após a sua morte, pois tornou-se pouco a pouco evidente para todos que um poder sobrenatural emanava dele. Quando vivo, ele tinha um poder que curava os doentes, acalmava os espíritos malignos. Por exemplo, uma vez, durante o trabalho campestre, uma cobra saiu de uma moita e se aproximou, ameaçadora. Os trabalhadores-leigos tentam em vão matá-la ou afugentá-la. Apeiam para Padre Charbel que estava pertinho. Ele chega, sereno, e aproxima-se da cobra com calma. Esta se imobilizou. Fazendo um gesto, diz-lhe: "vá embora daqui, ó bendita". O réptil deslizou calmamente por perto dele e foi embora.

Em 1885, os gafanhotos invadiram a montanha libanesa e começaram a devastar a região de Annaya. Eles foram afastados desta região pelas preces do Padre Charbel e sua bênção. Muitos doentes, considerados perdidos pela medicina, encontravam cura repentina sob a influência do Padre Charbel que, em geral, chegava, rezava, abençoava a água, aspergia o doente, olhando-o longamente, e se reúrava. O doente levantava-se; estava curado. Um dia, levaram ao Padre Charbel um jovem chamado "o louco de Ihmej", pequena aldeia perto do eremitério, que era violento, indomável, agressivo, e muito perigoso. O Padre Charbel libertou-o das cadeias e mandou-o pôr-se de joelhos. O louco, com calma, obedeceu. Nosso Santo põe as mãos sobre a cabeça dele e reza. Terminando a oração, o louco de Ihmej estava totalmente curado.

Estes foram alguns favores e milagres que se realizaram durante a vida do Padre Charbel. Após a sua morte,o primeiro fenômeno extraordinário se realizou algumas semanas depois do seu sepultamento quando luzes estranhas começaram a aparecer à noite sobre seu túmulo. Os fiéis da vizinhança alertaram o superior do convento que, uma noite, percebeu pessoalmente o fenômeno prodigioso; sob o efeito das luzes e dos milagres, ele solicitou autorização ao Patriarca Maronita, Elias Houwaék, para abrir o túmulo e transferir o corpo para um sepulcro mais honroso e digno. A autorização foi concedida a condição de que o corpo fosse conservado num lugar bem fechado. Conforme as recomendações patriarcais, o túmulo foi aberto, pela primeira vez, no dia 15 de abril de 1899, em presença apenas de sete testemunhas, incluído as pessoas da Comissão eclesiástica. Então, foi o segundo fenômeno prodigioso: o corpo estava intacto!

De fato, as mãos repousavam sobre o peito, segurando o crucifixo. O corpo estava tenro e flexível. O rosto e as mãos eram os de um homem adormecido. De um dos lados do corpo, escorria um sangue vermelho misturado com uma espécie de água: o suor. Os paramentos, cheios deste líquido sanguinolento, foram trocados e conservados até hoje. Caso extraordinário, este líquido sanguinolento sempre escorreu de seu corpo até a sua Beatificação em 1965, pois, esta exsudação de seu corpo era permanente, apesar de muitas tentativas realizadas todas vãs para pará-la. As vezes, este líquido atravessava as paredes do túmulo.

O túmulo foi também aberto, sempre em presença das duas Comissões eclesiástica e médica, em 1901, em 1909, em 1926 no dia 9 de outubro, em 1927 em dia de 24 de julho, em 1950 no mês de fevereiro, em 1952 no mês de agosto, e em 1955 no mês de setembro; o corpo estava sempre flexível, e sempre transpirando; e cada vez, os paramentos molhados foram trocados e conservados no museu de nosso Santo à Annaya. Eu, pessoalmente, em 1952, em 1955 e em 1965, fui testemunha ocular deste fenômeno extraordinário que nem médicos, nem cientistas especialistas conseguiram explicar.Em 1952, o corpo foi exposto durante duas semanas no mosteiro de São Marun de Annaya afim de que os fiéis pudessem ver o corpo conservado. Milhares e milhares vieram visitá-la e vê-lo. Eu era uma das três pessoas responsáveis pelo corpo exposto, e via os fiéis que passavam das 7:ao horas de manhã até 7:ao horas da noite em frente do corpo, durante 14 dias, fazendo fila ininterrupta; e cada um só podia recitar um Pai Nossa e uma Ave Maria.

Em suma, o Senhor, pela intercessão de nosso Santo, fez e está fazendo ainda, no Líbano como no mundo inteiro, diversos milagres e favores. É interessante revelar que, entre os favorecidos pelos milagres, contam-se ortodoxos, muçulmanos e druzos, entre outros. Todavia, entre os numerosos milagres que ocorreram pela intercessão de São Charbel, dois foram considerados e analisados para a Beatificação: a da irmã Maria Abel Kamari, libanesa da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, que durante 14 anos sofreu de uma úlcera estomacal, e o de Alexandre Obeid, libanês, que perdeu a vista ao receber um golpe no olho direito. Estas duas curas milagrosas aconteceram no Ano Santo de 1950. Para a Canonização estudou-se mais um milagre: o de Mariam Assaf Awad, libanesa, de 68 anos de idade. Em 1966 ela sofria de um câncer na amígdala direita. Era um tumor maligno e a paciente foi desenganada. O câncer lhe causava muitas dores e dificuldade de respirar e engolir. Em dezembro de 1966, recorrendo a São Charbel, ela curou-se de sua doença.

No entanto, o milagre mais característica, concedido pela intercessão de São Charbel, é a conversão de um grande número de fiéis. De fato, numerosos cristãos afastados dos sacramentos da confissão e da eucaristia, ou mesmo afastados totalmente da Igreja, voltam ao Senhor ao visitar o túmulo de São Charbel; mudam de conduta e adotam uma vida coerente e cristã. O seu túmulo é freqiientemente vi.citado no inverno e no verão, e a devoção por ele se tornou universal.
 

Beatificação e Canonização
Quanto mais a pessoa se isola para estar perto de Deus, tanto mais ela está perto dos homens. Retirando-se do mundo para não ser do mundo, embora vivesse no mundo (Jo,17,16), São Charbel é conhecido no mundo inteiro. Centenas de milhares de cartas que chegam ao mosteiro de Annaya testemunham o fato. Assim a vida de São Chartel é uma prova de que o verdadeiro eremita na Igreja é um apóstolo de Cristo, apóstolo por excelência. Padre Charbel foi beatificado no dia 5 de dezembro de 1965, por Sua Santidade o Papa Paulo VI, em presença dos compatriotas, de todos os cardeais e bispos da Igreja Universal, que se encontravam em Roma por ocasião do encerramento do Concilio Vaticano IL Todos assistiram a esta cerimônia memorável. No dia 9 de outubro de 1977, o mesmo Papa o canonizou, declarando o Santo do Líbano, Santo para a Igreja Universal, durante o Sínodo dos Bispos. Estes eventos inesquecíveis, por ser ele o primeiro confessor oriental, foram uma grande honra para o Líbano e particularmente para a Igreja Maronita e para a Ordem Libanesa Maronita. Participei dos dois eventos, e era mesmo o Postulador da Causa de Canonização de São Charbel e dois outros santos libaneses maronitas: a Beata Irmã Rafqa (Rebeca) El-Choboq El-Rayés de Himlaya, nascida em 1832, falecida em 1914, (foi beatificada pelo Papa João Paulo II no dia 17 de novembro de 1985); e o novo Beato Padre Nimatullah Kassab Al-Hardini, nascido em 1808 e falecido em 1858, (foi beatificado, pelo Papa João Paulo II, no dia 10 de maio de 1998, primeiro aniversário da visita do Santo Padre João Paulo Il ao Líbano). Como São Charbel, foram membros da Ordem Libanesa Maronita, ramos masculino e feminino. Sim, o Líbano pode orgulhar-se de CHARBEL, RAFQA E NIMATULLAH AL-HARDINI! Quantas vezes os responsáveis na Congregação das Causas dos Santos no Vaticano me diziam quando era responsável dessas três Causas: "Vocês têm as mais belas figuras de santidade na Igreja". Que honra para nossa Igreja Maronita que está testemunhando o Evangelho de Cristo no Oriente Médio, e que foi a única Igreja Oriental que ficou sempre Católica Apostólica Romana.

Este fenômeno é curioso, e às vezes surge a pergunta: por que encontramos tantas pessoas que visitam regularmente e quase cada dia o túmulo de São Charbel! A resposta.me parece esta: no mundo de hoje, de tal modo materialista, de tal modo egoísta, e de tal modo sensual, as pessoas, angustiadas pelo vácuo interior, tem a nostalgia da felicidade que não se consegue achar nem no conforto, nem na riqueza, nem na concupiscência da carne, nem na soberba da vida, como diz São João, o Evangelista (1Jo, 2,16), mas consegue achá-la nas virtudes que nosso Santo se esforçou para viver com grande heroísmo. Por isso, elas vêm ali para se sentir um pouco feliz, perto deste homem que consegui conhecer e viver a autêntica felicidade que elas estão procurando, e tentar imitá-la.

Missão no Mundo Atual
O que podemos dizer ainda da "flor admirável de santidade que floresceu sobre a cepa das antigas tradições monásticas orientais!" como disse o Papa Paulo VI durante a cerimônia de Beatificação de São Charbel; e acrescentou: "Que Padre Charbel nos faça compreender num mundo demasiadamente fascinado pela riqueza e o conforto, o valor insubstituível da pobreza, da penitência e da ascese para libertar a alma em sua subida para Deus".

Deveras, São Charhel, por sua vida heróica, libertou-se para ajudar aos demais a libertarem-se de seu egoísmo, de suas paixões. Fiel ao apelo de Deus e ao amor, São Charbel conheceu a verdadeira felicidade, o equilíbrio total, a liberdade autêntica, e a perfeita serenidade. Assim Charbel tornou-se um exemplo vivo para o nosso mundo tão sacudido pelo materialismo e a libertinagem. De fato, nosso mundo atual está desorientado e dilacerado; ele tem muita ciência mas pouco espírito, muitos interesses mas pouco amor, muito egoísmo mas pouca abnegaçâo e entrega a Deus e aos demais. Entende-se que o amor poderá devolver ao mundo atual a harmonia, a humildade e a satisfação de viver. A vida de São Charbel é, para cada um de nós, um modelo de rumo certo.
 

Oração para São Charbel para Obter Graça

Ó Deus, admirável em Vossos Santos, Vós que inspirastes a São Charbel seguir o caminho da perfeição, lhe concedestes a graça e a força para fazer triunfar, na sua vida, o heroísmo das virtudes monásticas: a obediência, a castidade e a voluntária pobreza, e manifestastes o poder de sua intercessão por numerosos milagres e graças, concedei-nos a graça... que Vos imploramos por sua intercessão! Amém


Fonte: http://www.igrejamaronita.org.br/conteudos/Index.asp?eFh4fDE0NA__

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segunda-feira, 10 de julho de 2000

Santa Verônica Giuliani


Ursula Giuliani nasceu em Mercatello de Urbino, no ano de 1660. Aos sete anos de idade, ingressou no convento capuchinho de Citá de Castelo, onde posteriormente tomaria o nome de Verônica. Já em sua infância foram observados nela sinais de  futura santidade.   Ainda menina,   trazia  no coração  grande  amor  à Nossa  Senhora  de forma  que   a  penitência, a mortificação  e  seu  empenho sincero na caridade para com os mais  necessitados lhe imprimiam na  alma verdadeira  santidade. Após a profissão, aumentou sobremaneira sua devoção à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.



                                                   Sua personalidade, inicialmente,  pendia  para  o mal da teimosia, que  acabava  culminando  em desabafos e  violentas explosões de ira. Com a graça divina,  porém, a  sua energia  individual  conseguiu  vencer  estes defeitos e veio a ser a religiosa mística que representa uma verdadeira glória  para os membros de sua  Ordem, conseqüentemente para toda a santa Igreja. 



                                                   Foi agraciada com a visão de Jesus Cristo com a cruz nas costas. A partir disso, passou a sofrer uma aguda dor no costado.  Em 1693, teve outra visão na qual o Senhor lhe deu a tomar o cálice;  Verônica o aceitou e, desde aquele momento, os estigmas da Paixão começaram a gravar em seu corpo e sua alma. No ano seguinte apareceram sobre sua fronte as marcas da coroa de espinhos e no ano de 1697 formaram-se em seus membros as  cincos chagas de Nosso Senhor, precisamente numa Sexta-feira Santa, distinção esta  que  lhe trouxe  dolorosas  provações.  



                                                   Durante 34 anos desempenhou em seu convento o cargo de mestra de noviças. Onze anos antes de sua morte foi eleita abadessa.  Formava a suas noviças com o exercício de perfeição e virtudes cristãs.  Ao final de sua vida, Santa Verônica, que durante quase 50 anos havia sofrido com admirável paciência, resignação e alegria, se viu acometida de uma apoplexia.  Morreu em 9 de julho de 1727.  Deixou escrito um relato de sua vida e suas experiências místicas, que foi de grande utilidade no processo de beatificação. 


Antes de sua morte, havia dito ao seu confessor que os instrumentos da Paixão do Senhor estavam impressos em  seu coração. Lhe desenhou seu próprio coração, representando estes instrumentos, pois dizia que os sentia porque mudavam de posição. 


Ao fazer-lhe a autópsia, na qual esteve presente o bispo, o alcaide e vários cirurgiãos,  descobriu-se uma série de objetos minúsculos, que correspondiam aos que a santa havia desenhado. Seu corpo se conserva incorrupto junto ao Mosteiro de Santa Verônica, na localidade de Cittá di Castello, Umbria - Itália.  



Reflexões:
A história nos deixou registrado que Santa Verônica, apesar de suas  virtudes adquiridas em idade recente,  teve  também  fraquezas humanas e  pelo seu temperamento era  conhecida como  pessoa  teimosa e  que  facilmente deixava-se levar por  explosões de ira.  Era, portanto, uma mulher  comum na vida cotidiana, porém, os atos de fidelidade e devoção cristã permitiram o florescimento das mais belas virtudes na absoluta compreensão das coisas de Deus, alcançando a santidade em elevadíssimo grau.  Peçamos a intercessão de  Santa Verônica para que possamos, como ela,  vencer nossos  defeitos e vícios agregados em nossa peregrinação terrestre.  










Fonte: http://www.paginaoriente.com/santosdaigreja/jul/ver0907.htm

sábado, 8 de julho de 2000

Beato Julio de Montevergine

 

Há séculos que ele é conhecido simplesmente como ''Beato Julio".
Nasceu em Nard ò (Lecce, Itália) em 1601,  no meio de uma nobre família. 
Foi educado em letras, ciências e especialmente em música que era muito inclinado. 


Em sua juventude, iluminado pelo Espírito Santo, distribuiu seus bens aos pobres, deixou a casa paterna e sua cidade e vestido com o sayal de peregrino, partiu para a Campânia, para encontrar o lugar certo para viver seu desejo de solidão. Depois de algum tempo encontrou um pequeno vale no maciço de Partênio em Irpínia e juntamente com outro eremita de nome João, começaram a viver uma vida de mortificação dedicados à oração.


Sua presença e santidade de vida, atraiu muitas pessoas, entre elas os nobres Carafa, feudatários do lugar, que admirados, construíram para os dois eremitas um eremo e uma igreja dedicada à Virgem Incoronada. O eremo e o santuário, o papa Gregório XIII confiou-se aos beneditinos camaldulenses. Mas como julho tinha tornado-se conhecido demais e pensava-se na possibilidade de ser nomeado superior da comunidade, ele para retornar à solidão, deixou o eremo e marchou para a abadia de Montevergine, não muito distante, e foi acolhido com alegria pelos monges.


Aqui viveu à sombra da Virgem, como mais um monge, dedicando-se com zelo ao decoro do Santuário, a agir como organista por 24 anos. Por humildade não quis ser ordenado padre, e antes de morrer, pediu aos seus superiores, para ser enterrado sob o pavimento da capela da Virgem, para assim ser pisado pelos peregrinos, como o maior dos pecadores.
Seu desejo foi ouvido. Seu corpo permanece incorrupto e tem culto popular.



Fonte: https://www.facebook.com/LiturgiayFC/posts/2990793384580951
https://hagiopedia.blogspot.com/2014/07/beato-julio-m-1601.html
https://anastpaul.com/2020/07/08/saint-of-the-day-8-july-blessed-giulio-of-montevergine-died-1601/

terça-feira, 4 de julho de 2000

Santa Isabel de Portugal - Rainha Santa

Quando nasceu Santa Isabel, havia uma briga entre seu pai e seu avô, Jaime I, o Conquistador. Há tempo não se falavam, porque esse rei de Aragão não aprovava o casamento de seu filho Pedro com Dona Constança. Apenas nasceu a santa menina, foram-se apagando as desavenças domésticas e houve grande harmonia naquela casa real.
O destemido avô não ocultava sua grande predileção por essa criança e fez questão de que ela fosse educada em seu palácio, para poder gozar de sua companhia. A razão mais profunda pela qual não queria separar-se dela era o sensível influxo de bênçãos e a suavidade que emanavam de sua pessoa. Num ambiente carregado de tensões e pesados encargos, aquele precioso tesouro dulcificava os corações. Após o falecimento de Jaime I, a infanta permaneceu ainda alguns anos com seus pais. Muito em breve ela se tornaria rainha de Portugal.


"A Cruz e os espinhos do meu Senhor
são o meu cetro 
e a minha coroa".


Na corte de Portugal
Em 1282 partiu para as terras lusas, a fim de contrair matrimônio com Dom Dinis, que acabava de subir ao trono. Nunca se tinha visto ali uma soberana de tamanha modéstia e amabilidade. Seu recolhimento e união com Deus não tardaram a cativar o povo, o qual logo retribuiu o amor de que estava sendo objeto. Para aumentar a confiança de todos na jovem soberana, concorreu a paz que ela obteve, logo ao chegar, entre Dom Dinis e seu irmão que lhe disputava a coroa.

Sua vida na corte foi uma constante busca do sobrenatural. Sem omitir nenhuma das obrigações impostas pela sua condição de rainha, o seu coração não se prendeu a esta terra. Estava presente em todas as festividades do reino e sinceramente se regozijava com o povo; cingia a coroa e trajava os mais ricos vestidos para, ao lado do rei, receber as autoridades ilustres que vinham honrá-la e colocarse a seu serviço. Entretanto, nem por isso envaideceu-se e desejou aquelas glórias para si. Julgava-se pecadora e teria preferido mil vezes ser pobre a possuir todos os tesouros reais.


Precursora da devoção à Imaculada

A oração e a vida de piedade exerceram papel primordial em sua existência, e foram a causa de todas as conquistas pelo bem do reino e das almas que ela obteve. Toda manhã assistia à Santa Missa em seu oratório com o espírito absorto em santas considerações. Desde os oito anos de idade recitava o Ofício Divino, e acrescentou depois a recitação diária dos salmos penitenciais e outras devoções em honra dos Santos e de Nossa Senhora.

Sua devoção a Maria Santíssima foi terna e fecunda, legando à posteridade um traço indelével para a espiritualidade luso- brasileira: o patrocínio da Imaculada Conceição. De fato, foi Santa Isabel quem A escolheu como padroeira de Portugal e fez com que se celebrasse por primeira vez a sua festa, em 8 de dezembro de 1320, quando os raios das disputas teológicas em favor da Conceição Imaculada de Maria espargiam seus primeiros fulgores.


Sofrimentos de esposa e rainha
Assim amparada pelas forças divinas, ela preparou-se para as grandes cruzes e dissabores que a aguardavam. Após o nascimento de seus dois filhos, Constança e Afonso, a Rainha Santa suportou heroicamente a vida dissoluta que Dom Dinis passou a levar. Sem murmurar ou impacientar-se, ela muito rezou e fez penitência pela conversão do soberano.

Assistiu ainda com maior sofrimento às inimizades entre governantes cristãos seus parentes, que por ambição disputavam entre si terras e honrarias e, em conseqüência de suas pretensões, causavam derramamento de sangue.

Corajosamente, Santa Isabel ergueu- se em toda a sua estatura e impediu uma grande quantidade de combates que estavam a ponto de estalar. Dom Dinis e Dom Afonso - irmão do rei - estavam em pé de guerra pela coroa de Portugal. O mesmo rei seu esposo tinha com o monarca de Castela, Sancho IX, sérias contendas em torno das fronteiras entre os reinos. Anos mais tarde, Dom Fernando IV de Castela - seu genro - e Dom Jaime II de Aragão - seu irmão - nutriam mutuamente uma feroz inimizade que caminhava para um terrível enfrentamento. Seu irmão, Frederico da Sicília, e Roberto de Nápoles guerreavam violentamente por razões políticas...

Quantas lágrimas este quadro desolador custou a seu reto coração! Erguendo constantes preces a Deus e implorando a cada um desses soberanos que ouvisse a voz da justiça, ela saiu vitoriosa em todas as desavenças nas quais interveio. A Rainha Santa provou que a paz não se deve tanto a tratados e a considerações de caráter econômico, quanto a almas santas que aplaquem a ira e o ódio por meio da mansidão e da clemência.


Coragem e intrepidez de mãe
A mais pungente atuação de Santa Isabel, a que lhe custou mais sofrimentos e angústias, foi a de enfrentar a rebeldia de seu filho contra o rei. Desejoso de mandar logo no reino e julgando que a coroa tardava muito, o invejoso herdeiro quis proclamar-se rei e declarou guerra a Dom Dinis. Desprezando todos os bons exemplos que sua mãe sempre lhe dera, organizou um exército e defrontou-se contra o autor de seus dias.

De um lado, o rei marcha diante de seus homens, disposto a tudo para manter o cargo que lhe cabe por direito. De outro, o filho insolente o enfrenta e despreza o mandato divino que obriga a honrar pai e mãe. No momento em que o silêncio nos dois campos inimigos indica o início da batalha, surge a figura intrépida da rainha: em sua veloz montaria, ela rasga a arena da discórdia e se interpõe entre as criaturas que mais ama neste mundo, para implorar o perdão e a paz.

Seu olhar, sempre carregado de doçura, volta-se desta vez severo e penetrante para o filho ambicioso: "Como te atreves a proceder deste modo? Pesa- te tanto assim a obediência que deves a teu pai e senhor? Que podes tu esperar do povo no dia em que te caiba governar o reino, se estás a legitimar a traição com este mau exemplo? Enfim... se de nada te servem os meus conselhos e carinho de mãe, teme ao menos a ira de Deus, que justamente castiga os escândalos!"

Seria possível resistir a este apelo materno, feito diante de milhares de súditos? Arrependido e cheio de confusão, o filho ajoelha-se sem replicar, pede perdão ao rei e jura-lhe fidelidade. Mais uma vez a Rainha Santa afasta as negras nuvens do horizonte e faz brilhar, para gáudio de todos, o arco-íris da bonança.


A caridade e o amor aos pobres
A par de seu espírito pacificador, foi na prática da caridade e no amor aos pobres que o seu amor a Deus se projetou inteiramente. Tanto se dedicou aos fracos, cuidou dos enfermos, fundou hospitais e protegeu toda categoria de desvalidos, que não é possível encontrar explicação humana para a fecundidade assombrosa de suas iniciativas.

Quando a querida rainha saía no paço, uma multidão de infelizes a seguia, pedindo socorro, e nunca algum deles se retirava sem ser generosamente atendido. Gostava de cuidar pessoalmente dos leprosos mais repugnantes, tratar-lhes as chagas e lavar- lhes as roupas; encaminhava para uma vida digna os órfãos e as viúvas e até na hora da morte não abandonava os infelizes, para os quais providenciava uma sepultura digna e mandava celebrar Missas em sufrágio de suas almas. Como corolário de sua fé inabalável, não poucos eram os doentes que saíam de sua presença inteiramente curados.

Primeiro tumulo de Santa Isabel


Morre como terciária franciscana
Ao morrer Dom Dinis, em 1325, Santa Isabel contava 54 anos de idade, e ainda viveu mais onze. Nesse período abraçou a Ordem Terceira de São Francisco e abandonou as pompas da corte, a fim de viver exclusivamente para a oração e a caridade. Sua virtude heróica e a doação de si mesma atingiram o máximo esplendor; ela estava pronta para reinar no Céu.

No dia 4 de julho de 1336, enquanto intermediava uma ação de paz em Estremoz, veio Maria Santíssima buscá-la para a pátria definitiva, onde gozaria da glória eterna. Enquanto todos choravam a perda insuperável, ela se rejubilava por estar na iminência da posse definitiva do Deus a quem tão bem servira. Suas últimas palavras foram: "Maria, Mãe da graça, Mãe de misericórdia, protegenos do inimigo e recebe-nos à hora da morte". Era desejo seu ser enterrada em Coimbra, no convento de Santa Clara, fundado por ela.

Sua memória rapidamente ultrapassou as fronteiras do reino, e em todo o orbe cristão era conhecida aquela soberana que foi o mais belo ornato do glorioso Portugal.

Altar com o Tumulo atual



Uma canonização singular

O modo singular como Santa Isabel foi canonizada bem serve para mostrar o quanto, sendo a vontade Deus glorificar algum de seus filhos ilustres, nenhum obstáculo humano é capaz de impedi-Lo.
Inumeráveis foram os milagres obtidos junto a seu corpo, que permanecia surpreendentemente incorrupto e exalava um bálsamo odorífico. Em Portugal e na Espanha os devotos ansiavam por vê-la nos altares e dedicar igrejas em sua honra. Os soberanos que dela descendiam insistiam junto às autoridades eclesiásticas para acelerarem o processo.

Nos primórdios do séc. XVII, a canonização era o termo final de uma série de autorizações concedidas pela Santa Sé para a veneração dos santos. Sendo assim, era comum que apenas em algumas dioceses ou regiões se pudesse celebrar um bem-aventurado, mas saindo daquela jurisprudência o culto já não fosse oficial. Esse sistema, somado a uma série de numerosas canonizações naquele período, acabou levando o Papa Urbano VIII a instituir um sistema minucioso e cauto para a admissão de novos bem-aventurados no rol dos santos.

Neste intuito reformador, apenas subiu ao sólio pontifício e logo declarou que não haveria de canonizar nenhum santo! E justo agora que tudo propiciava a glorificação definitiva da querida Rainha Isabel... Que fizeram os devotos agradecidos? Encomendaram aos céus o filial intento, e obtiveram pela oração o que pelos meios humanos não conseguiram.

Após ter enviado várias cartas reforçando o pedido, e também um representante que muito insistiu junto a Urbano VIII, tudo o que o soberano então reinante, Filipe IV, conseguiu foi que o Papa, por educação e cortesia, aceitasse uma imagem da veneranda rainha.

Entretanto, pairava um desígnio superior sobre o intrincado caso. Tendo o Papa caído gravemente enfermo, com febres malignas e já quase sem esperança de vida, lembrou-se da rainha de Portugal. Tanto se falava de seu amor pelos doentes, de seu incansável zelo por curar-lhes o corpo e a alma... Encomendou-se a ela o Papa também, esquecendo-se de sua prudente reserva para com os justos de Deus.

Eis que no dia seguinte amanheceu bom, sem nenhum risco de vida! Tão comovido ficou por ver a bondade de sua protetora que mudou seu parecer. Canonizaria, por uma especial exceção, a rainha de Portugal; e o faria com o "coração grande", alistando-se ele também nas fileiras de seus devotos. Assim se explica a magnífica cerimônia que teve lugar na Basílica de São Pedro, em 25 de maio de 1625. Nem antes nem depois, nos 21 anos de seu pontificado, Urbano VIII canonizou qualquer outro santo!

* * *

Como é eloqüente o exemplo que nos deu a bondosa rainha Santa Isabel, a qual se abriu sem reservas para a mensagem do Evangelho e compreendeu que o tempo é breve e a figura deste mundo passa! Enfrentando as amargas conseqüências do vício e da vanglória que a rodeavam, ela manteve a integridade de quem não se entregou ao pecado e correspondeu com alegria aos desígnios divinos.

Em Coimbra se conserva um precioso manuscrito com estas belas palavras a seu respeito: "A Cruz e os espinhos do meu Senhor são o meu cetro e a minha coroa". Eis o segredo de todos os maravilhosos frutos que ela colheu ao longo de sua vida: o amor a Jesus crucificado acima de todas as coisas. Sigamos seu rastro luminoso de quem só almeja os bens do alto, e obteremos também o inestimável dom da paz para nossos dias.

(Revista Arautos do Evangelho, Julho/2007, n. 67, p. 22 à 25)